terça-feira, 6 de setembro de 2016

Memórias íntimas.

Quando eu era pequena, minha mãe me deu uma máquina fotográfica da turma da Mônica, era boa, tirava boas fotos, foi o meu primeiro contato com fotografias, naquele tempo a gente tomava um puta cuidado pra não colocar o dedo na frente da lente.
Minha mãe e meu pai não ficaram muito tempo comigo quando eu era pequena, fiquei sempre com babás, tias e escolinha, eles trabalhavam o dia todo, e a máquina foi um presente bem maneiro, que levei na fábrica da Vigor em um dos passeios da escolinha.

- a primeira foto que tirei foi da Karina, minha amiguinha da escolinha - nem tão amiguinha - mas a foto ficou ótima, os tanques cheios de leite que eu morria de nojo na época - e ainda morro- também ficaram ótimos, essa é uma foto proibida, não podiam entrar com máquinas lá dentro, mas entrei porque eu tinha cinco anos e era uma máquina do cebolinha e talvez todos pensassem que aquilo era de brinquedo, até meu pai pensou que era de brinquedo, até ele ver a foto revelada dele assistindo Tin Tin comigo. (o segundo contato tão marcante foi uma exposição sobre as fotografias de Wim Wenders, quando vi a foto da cidade abandonada com a roda gigante, mas isso é outra história).

Até ver a foto onde estou com metade da minha franja porque naquele dia fomos ao cabeleireiro, até ver a foto da Lita e do Waldemar (meus tios), tomando café comigo.

Não chamo a Lita nem o Waldemar de tios e quando eu era pequena todo mundo pegava no meu pé por isso, não chamo porque achava eles mais que tios e ainda acho! Acho eles meus amigos, na real meus primeiros grandes amigos, talvez até avós, meus avós morreram cedo e uma hora ou outra por eles serem meus tios mais velhos eu possa ter substituído os parentescos, que realmente não importam. E nunca chamei eles de tios, Waldemar me ensinou a embaralhar cartas, jogar truco, alguns acordes de violão, embora ele seja um violeiro de primeira, me faltou dedicação (não só nisso), Waldemar era um grande bohemio, bom bebedor de vinho que com seis anos me deixava beber um dedo de vinho seco antes das refeições (segredo), tocava tão bem ou melhor que Jacob do Bandolim ou Dilermano Reis, o abismo de rosas, se você não ouviu, deveria ouvir faz bem para qualquer alma, Lita me ensinou a fazer um bolo fofinho, a beber café, faz a melhor sopa do mundo, a melhor sopa e a melhor polenta do mundo, A MELHOR, me ensinou a dançar forró, afinal sou bisneta de cangaceiro é o mínimo que posso saber, ao menos girar e virar, dançávamos Elvis também fever é uma de suas preferidas, sei seu hino preferido, sua mão é de dona de casa, é mão bonita de mulher trabalhadora, era linda, é linda e sempre será. Estudou até a segunda série e aos 60 resolveu voltar a estudar, fez até o terceiro colegial e se pudesse teria feito história da faculdade e seria historiadora é o que me contou.

Quando Lita estava grávida de Marcos ela perdeu o bebê, Waldemar e ela ficaram muito tristes e resolveram que não teriam mais filhos, ela ficou com algum problema no útero, teve que tirar acho, mas eles sempre me disseram que não se sentiam sozinhos por que tem os sobrinhos e agora o Mike, o cachorro, acabei de ligar pra eles encontrei meu livro de quando eu era criança a ilha do mistério, que sempre liamos juntos pra descobrir qual era o real mistério do livro, nunca descobrimos, vou descobrir hoje e vou ligar pra eles pra contar depois.

Esse texto na verdade é sobre memórias intimas de gente que as vezes morre pra gente sem ter morrido e que tem gente que se morrer parece que vai levar a gente junto, por mais tardes com cafés, sonhos de voar de balão, macetes para embaralhar cartas, xotes pernambucanos, bolos, café amargo, tirinhas do caderno 2 do Estadão, abraços que eu me lembre de vocês eternamente.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

todo o mundo.

I Crônica nem tão crônica sobre vc e nossa construção

Quando eu durmo seu cachorro me acorda e de manhã logo cedo eu compro cigarros e levo ele pra passear, eu abro a porta e tem café sendo coado, aquele cheiro invade todo o apartamento eu abro a varanda e sento na rede.
Você vem logo depois e dividimos a xícara grande de café escrita the magestic new york, faça frio ou calor, as bobinas do prédio ao lado nunca param e é como uma trilha de fundo e isso faz parte do todo que existe hoje, do todo que me faz ver que amor é construção.
Amor é como o sol que bate cedo na minha cara na marginal Pinheiros, são as nossas mensagens de quando o metrô tá parado, amor é também todas as músicas que cantamos no seu carro, aquelas ruins que tocam na mix (hahhahahah), é também os programas chatos que você ama, as peças, as praças com vinho, as trilhas, os trilhos, as conversas de esperança e encorajamento, as construtivas discussões, os nossos debates políticos, as dúvidas de netflix, as flores e espinhos, é quando eu te disse quem era meu fotógrafo preferido, meu diretor, a minha cor, suco sem açúcar com muito gelo, salgado à doce, meu nome do meio, é tudo que você já me ensinou, é sobre tudo que já te fiz rir, são os garçons sempre tão gentis, as biografias que você lê e me conta, as bandas estranhas que eu te mostro e cada detalhe que você não esquece e sempre me surpreende ao lembrar.
É isso... é isso né? you are the famous beloved! E entrego de peito aberto todo o meu carinho e sem esperar ele é retribuído, é regando com respeito e gentileza o mundo que a gente constrói fica leve, hoje eu tô bem good vibes querendo o melhor pra mim, vendo tudo de uma perspectiva bem bonita e eu sempre que fosse muito mais lirico e mais poético, mas é melhor é real, é como diz um dos quadrinhos que a gente leu "você me faz ser ligeiramente melhor do que eu sou".

quinta-feira, 2 de junho de 2016

canto da marcha durante a guerra. - part. 1

Eu gritei pra mim mesma,
e chorei sem pensar em parar,
desafoguei, me afoguei, pra aprender a nadar,
eu não venci,
ainda não venci.
O caminho é imenso e a força vem de mim,
estranha é a tristeza e a alegria é mergulho no mar.

E eu não desisto, eu grito pra mim mesma,
vai!
não há vitória se não batalhar,
e eu confio em mim, mesmo que ninguém vá confiar.

sexta-feira, 18 de março de 2016

soco de direita

Brigar com você por política talvez não valha a pena, sempre é a mesma coisa, a fatia do bolo nunca vai ser dividida igualitariamente e vivemos apenas num modelo falido de uma administração pública sem qualidades e isso nada deve influenciar no nosso amor.
Então me calo e fico aqui me resignando a meros pensamentos... Amar de fato é um ato político.
Então te corneto porque não sou nem um pouco à favor desses seus pensamento de extrema direita, me calar é me trair demais e a segunda coisa que mais odeio depois de cobranças é trair minhas vontades.
Então? Então brigamos.
Você se aloja na frente do pato gigante da Fiesp, eu me alojo no mais profundo pensamento de que a maior revolução da minha vida é amar alguém como você, que desfila à vontade fechando as vias públicas dessa cidade, sem que um policial te jogue gás lacrimogênio na cara, como já aconteceu comigo e com diversos amigos, como aconteceu com meus tios, com a minha mãe.
Te amar é um ato político, um ato político bem brasileiro, não importa de que lados nós vamos estar, nem importa sequer se há um lado, no final das contas somos farinha do mesmo saco. Um amor sem problemas deve ser algo como um amor anarquico.

terça-feira, 12 de maio de 2015

nova fase

Todas as coisas de antes mudaram... todas.

Não há nada que esteja como um dia foi, nada, os amores, amizades, partidos políticos, empregos, cachorro, carro, árvores, prédios, praças (a falta delas), bibliotecas, hábitos, vícios, imagens, paredes, talheres, gostos, perfumes, mochilas, roupas, escovas, cabelos, postura, desespero, sossego, certeza, dinheiro, experiências, confianças, atalhos, calças, atrasos, celulares, comidas, bebidas, a água, o sono, chuveiro, banheiro, casa, telhado, vizinho, primo, tia, tio, pai, mãe, irmã, cadarço, nó, pipa, balão, sonhos, ilusões, frio, calor, chuva, sol, temporal, cactus, poster, livros, leituras, músicas, endereços, vontades, medos, muitos medos, força, malícia, indelicadeza, trato, jeito, lábia, solto, preso, aceito, não aceito, concordo, não concordo, penso, repenso, despendo, orquídea, passado, abajour, chaveiro, sorte, azar, esforço, sacrifício, carinho, piadas, humor, mal humor, paredes, lembranças, tudo mudou.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Durmo pouco e perco tempo

Se acalma que ainda não chegou sua hora, espera um pouco mais.




para ouvir ao som de Jennifer Lo-Fi_Troffea (muitos significados).




é a indiferença que mata, tem matado, olha esses casais que morrem, fazem nó ao invés de laço, porque não se segura os pés e fica aqui é essa mania de conhecer tudo, um monte de fuga, um monte de dor que se causa por causa da cabeça encucada que aprendeu a ter, simplifica e vai viver, não tem nada demais, não tem nada demais!

Mas te acalma, que ainda não deu sua hora, quando for você vai saber, vai sair correndo e nem vai olhar pra trás, nunca mais, vai olhar pra frente, vai dançar livre, vai passar essa tua febre, esfriar esse corpo sempre quente no chão gelado do quarto.

Quando for tua hora e decidir voltar pra São Paulo volte com sua alegria que me faz tanta falta, mas volta mais de boa, se lembra? Chacoalho o joelho ao te encontrar.
Quando voltar revela aquelas tuas fotos do monte que nós fomos, revela pra mim o segredo de cativar sem ter medo, mas sempre ter certeza de que toda rosa também tem espinhos, me ensina, volta e me encanta outra vez


sábado, 19 de julho de 2014

A cidade do clube das bicicletas

Me lembro que quando nos encontramos você corria em ritmo bem acelerado, eu comecei a rir, nós somos aquele momento em que você percebeu que eu dava as mais altas gargalhadas de você, assim num dia cinza como esse.
Me lembro que quando nos encontramos você reduziu a velocidade e tentou desfarçar e agir como se já me conhecesse, eu tentei não mentir pra você.
E ficou tudo bem, porque a gente podia muito mais que aquilo.
Me lembro que quando nos encontramos o sol vinha surgindo e era exatamente aquele momento da manhã que a sombra é fria, mas o sol é como um abraço, quente e confortável.
O resto eu já não me lembro  e todos querem sempre saber o que aconteceu naquele dia, deixa isso pra nós e pra cidade que tem o clube das bicicletas.

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